Actualité
Appels à contributions
Science et Imaginaire - Ciência e Imaginário (Cadernos do CEIL, n° 2)

Science et Imaginaire - Ciência e Imaginário (Cadernos do CEIL, n° 2)

Publié le par Julia Peslier (Source : Carlos Clamote Carreto)

 

NÚMERO 2 | SETEMBRO DE 2012

CIÊNCIA E IMAGINÁRIO

Call for Papers

Em 1979, o famoso Colóquio de Córdova, subordinado ao tema «Ciência e Consciência», marcou uma viragem definitiva na separação cartesiana entre racionalismo científico e imaginário, abrindo novos caminhos e perspectivas para uma abordagem verdadeiramente inter ou pluridisciplinar das complexas relações entre matéria, consciência e criação humana, através das quais apreendemos aquilo a que se convencionou chamar de «real». Apesar das polémicas suscitadas, o diálogo entre filósofos e físicos (David Bohm, Fritjof Capra, Olivier Costa de Beauregard, Brian Josephson, etc.), entre psicólogos, neuropsicólogos e estudiosos das religiões, entre o inconsciente colectivo de Jung e as teorias de Einstein, o imaginal de Henri Corbin e as estruturas antropológicas de Durand, entre muitas outras inter-relações particularmente fecundas, permitiram não só mostrar que também as teorias científicas participam de uma visão do mundo cujo imaginário, culturalmente marcado, veicula mitos e procede, na sua tentativa de oferecer uma explicação homogénea e coerente das origens, como uma autêntica narrativa mítica, mas também que são múltiplas e de várias ordens as afinidades entre o símbolo, o regime das imagens e os fenómenos de não-separabilidade e de constante des-locação espácio-temporal das partículas postos em evidência pela física e a mecânica quânticas. Ao perder a sua objectividade epistemológica (Galileu, Descartes, Newton, Lavoisier, etc.), o seu estatuto de objecto perfeitamente circunscrito e localizável, o real manifesta-se agora como uma entidade necessariamente «velada», segundo a expressão de Bernard d’Espagnat, plural e paradoxal, como um significante que se caracteriza, como nos sistemas simbólicos, simultaneamente por um inesgotável excesso de sentido e por uma ausência constantemente à espera de ser questionada e colmatada, o que nos obriga a repensar o conceito de imaginário na sua relação com a própria noção de identidade.

Por outro lado, a par dos aspectos culturais, educacionais e até ambientais, parece hoje cada vez mais evidente, na esteira das reflexões de K. Lorenz e K. Popper, entre muitos outros, a importância dos aspectos filogenéticos na construção do imaginário, e, por conseguinte, a sua função na própria conservação da espécie. E se, como sugeria Popper no Simpósio de Viena (1983), «da amiba a Einstein vai apenas um passo», na medida em que qualquer organismo vivo, por mais elementar que seja, «coloca constantemente questões ao mundo, esforçando-se por encontrar as respostas adequadas» aos desafios que este lança à sua sobrevivência, tal não significará que toda a relação com o real e com o Outro implica sempre uma visão do mundo (necessariamente lacunar, fragmentária e contraditória) na qual o imaginário assume uma dimensão ao mesmo tempo biológica (orgânica) e cognitiva? De resto, não mostrou ainda recentemente António Damásio que contar histórias (ou seja, organizar narrativamente a nossa experiência através de mapas cerebrais) é uma das mais elementares e arcaicas «obsessões do cérebro»?Neste sentido, longe de ser apenas uma dimensão marginal à ordem material e física do mundo (visível e invisível), o imaginário está intrinsecamente implicado nela, sobre-determinando a forma como sentimos, lemos, representamos (tanto através do discurso artístico como através dos discursos científico, histórico, religioso ou mítico) a realidade que nos envolve, bem o modo como com ela interagimos e a transformamos.

No espírito aberto e interdisciplinar que presidiu outrora ao Colóquio de Córdova, o

2o número dos Cadernos do CEIL – Revista multidisciplinar de Estudos sobre o Imaginário convida assim os investigadores dos vários domínios científicos a reflectirem sobre esta relação essencial entre Ciência e Imaginário (nas suas múltiplas vertentes e manifestações – ver linhas de reflexão possíveis), enviando os seus contributos para cadernos_ceil@fcsh.unl.pt até ao dia 30 de Março de 2012. Os textos deverão respeitar as normas editorais da revista e ser acompanhados por uma breve nota biobibliográfica do seu autor e um resumo (em português e em inglês).

Possíveis linhas de reflexão:

1. Ficções e imaginários científicos; 2. Mito, Ciência e Imaginário; 3. Ciência e imaginário artístico (literatura e outras artes).

Roteiro Bibliográfico:

ATLAN, Henri. À Tort et à raison. Intercritique de la science et du mythe. Paris: Seuil, 1986. BOHM, David. Wholeness and the Implicate Order. London: Routledge, 1980. __________. On Creativity. London: Routledge, 1998.

COMBES, Claude. Évolution: les grandes questions. Paris: Éd. Le Pommier, 2010. COSTA DE BEAUREGARD (O.), CAZENAVE (M.) & NOEL (E.). La Physique moderne et les pouvoirs de l’esprit. Paris: Gréco, 1981. DAMÁSIO, António. O livro da consciência. Lisboa: Círculo de Leitores, col. «Temas e Debates», 2010. DURAND, Gilbert. Introduction à la mythodologie. Mythes et sociétés. Paris: Albin Michel, 1996. HOLTON, Gérard. L'Imagination Scientifique. Paris: Gallimard, 1981. D’ESPAGNAT, Bernard. À la recherche du réel: Le regard d'un physicien. Paris: Dunot, 1993 (2e édition). _________________. Le Réel voilé. Analyse des concepts quantiques. Paris: Fayard, 1994. LORENZ, Konrad; POPPER, Karl. L’Avenir est ouvert. Paris: Flammarion, 2000. PRIGOGINE, Ilya. La Fin des certitudes. Temps, chaos et les lois de la nature. Paris: Odile Jacob, 2010.

PRIGOGINE, Ilya & STENGERS, Isabelle. La Nouvelle Alliance. Paris: Folio, 1986. NEWBERG, Andrew et alii., Pourquoi « Dieu » ne disparaîtra pas. Vannes: Sully, 2003. Science et Conscience. Les deux lectures de l’Univers. Actes du Colloque de Cordoue. Paris: Stock, 1980.

THOMAS, Joël (org.). Introduction aux méthodologies de l’Imaginaire. Paris: Ellipses, 1998.

 

ISSUE 2 | SEPTEMBER 2012

SCIENCE AND IMAGINARY

Call for Papers

In 1979, the famous Cordoba Colloquium entitled «Science and Consciousness» has marked a crucial turning point in the Cartesian division between scientific and imaginary rationalism, opening up new pathways and perspectives and encouraging a truly inter and multidisciplinary approach of the complex relations between matter, conscience and human creation, through which we apprehend what is conventionally termed the «real». Despite all the controversies, the dialogue between philosophers and physicists (David Bohm, Fritjof Capra, Olivier Costa de Beauregard, Brian Josephson, etc.), between psychologists, neuropsychologists and religious studies scholars, between Jung's collective unconscious and Einstein's theories, Henri Corbin's imaginal and Durand's anthropological structures, among many other seminal inter-relations, has shown that scientific theories also take part in the shaping of a worldview whose culturally-marked imaginary conveys myths and functions, in its attempt to provide a coherent and homogeneous explanation of origins, as a true mythical narrative. On the other hand, it has also illuminated the innumerable affinities between the symbol, the image system and the phenomena of nonseparability and constant particle dislocation across time and space made evident by physics and quantum mechanics.

Having lost its epistemological objectivity (Galileo, Descartes, Newton, Lavoisier, etc.) and its status as a perfectly defined and locatable object, the real manifests itself as a necessarily «veiled», plural and paradoxical entity, in Bernard d’Espagnat's words, as a significant that is both characterized, as in symbolic systems, by a never-ending excess of meaning and by an absence constantly awaiting fulfillment which makes us rethink the concept of the imaginary in its relationship with the notion of identity itself.

Moreover, besides cultural, educational and even environmental aspects, following in the footsteps of K. Lorenz and K. Popper's reflections, the importance ofphylogenetic aspects in the construction of the imaginary have now become evident and, as a consequence, the role it plays in the preservation of the species. And if, as Popper has suggested in the Vienna Symposium (1983), «it's only a step from the ameba to Einstein», since every living organism, elementary as it might be, «constantly asks questions to the world in an unrelenting effort to find adequate answers» to the challenges posed to its survival, doesn't that mean that all relation with the real and the Other will always imply a worldview (necessarily incomplete, fragmentary and contradictory) in which the imaginary takes on both a biological (organic) and cognitive dimension? Hasn't António Damásio recently shown that telling stories (i.e. organizing our experience in narrative terms by means of brain maps) is one of the most elementary and archaic «obsessions of the brain»?

Rather than a dimension in the margins of the material and physical order of the world (both visible and invisible), the imaginary is intrinsically intertwined with it, over-determinining the way we feel, read and represent (through artistic, scientific, historical, religious or mythical discourses) both the reality enveloping us and the way we interact and transform it.

Inspired by the same open spirit that once presided over the Cordoba Colloquium, the second issue of CEIL Journal - A Multidisciplinary Journal of Studies on the Imaginary invites researchers of all scientific fields to reflect on the fundamental relationship between Science and Imaginary (in its multiple dimensions and manifestations ‒ see the suggested guidelines), by sending their contributions to cadernos_ceil@fcsh.unl.pt until March 30th 2012. Submitted articles should follow the editorial guidelines in use and should include an abbreviated CV of author and an abstract (both in Portuguese and in English).

Suggested guidelines:

1. Fictions and scientific imaginaries 2. Myth, Science and Imaginary 3. Science and imaginary in art (literature and other arts)

Suggested Reading:

ATLAN, Henri. À Tort et à raison. Intercritique de la science et du mythe. Paris: Seuil, 1986. BOHM, David. Wholeness and the Implicate Order. London: Routledge, 1980. __________. On Creativity. London: Routledge, 1998.

COMBES, Claude. Évolution: les grandes questions. Paris: Éd. Le Pommier, 2010. COSTA DE BEAUREGARD (O.), CAZENAVE (M.) & NOEL (E.). La Physique moderne et les pouvoirs de l’esprit. Paris: Gréco, 1981. DAMÁSIO, António. O livro da consciência. Lisboa: Círculo de Leitores, col. «Temas e Debates», 2010. DURAND, Gilbert. Introduction à la mythodologie. Mythes et sociétés. Paris: Albin Michel, 1996. HOLTON, Gérard. L'Imagination Scientifique. Paris: Gallimard, 1981. D’ESPAGNAT, Bernard. À la recherche du réel: Le regard d'un physicien. Paris: Dunot, 1993 (2e édition). _________________. Le Réel voilé. Analyse des concepts quantiques. Paris: Fayard, 1994. LORENZ, Konrad; POPPER, Karl. L’Avenir est ouvert. Paris: Flammarion, 2000. PRIGOGINE, Ilya. La Fin des certitudes. Temps, chaos et les lois de la nature. Paris: Odile Jacob, 2010.

PRIGOGINE, Ilya & STENGERS, Isabelle. La Nouvelle Alliance. Paris: Folio, 1986. NEWBERG, Andrew et alii., Pourquoi « Dieu » ne disparaîtra pas. Vannes: Sully, 2003. Science et Conscience. Les deux lectures de l’Univers. Actes du Colloque de Cordoue. Paris: Stock, 1980.

THOMAS, Joël (org.). Introduction aux méthodologies de l’Imaginaire. Paris: Ellipses, 1998.